Uma parceria entre o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), o Instituto de Treinamento em Cadáveres Frescos (ITC Rio) e a Central Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro irá possibilitar a capacitação de profissionais de enfermagem para a captação de córnea. A iniciativa, que acontece nesta quinta-feira (16), tem como principal objetivo ampliar o número de profissionais habilitados para realizar o procedimento e, assim, contribuir para a redução do tempo de espera por transplante de córnea no Estado.
Dados da Central de Transplantes mostram que, hoje, mais de 2.800 pessoas aguardam por este tipo de cirurgia para recuperar a visão. “Foi neste cenário que surgiu a necessidade de formar mais profissionais para atuarem na captação de córnea. Ampliar o número de equipes para realizarem este processo é fundamental para conseguirmos atender a demanda de todo o Estado”, explica o Chefe do Banco de Tecidos do INTO, Rafael Prinz.
Ao todo, oito enfermeiros vinculados à Central de Transplantes irão participar do curso de enucleação do globo ocular, que já teve duas etapas realizadas: a parte teórica e a parte de habilidades práticas, que consistiu no treinamento e avaliação da paramentação, escovação, montagem da mesa cirúrgica e manipulação de instrumentação específica.
Para completar a formação será realizada a prática in loco, um treinamento realístico feito em parceria com o ITC Rio, que está disponibilizando gratuitamente o espaço e as peças a serem utilizadas nas atividades. A utilização de cadáver fresco - que não foi submetido a nenhuma substância química para sua preservação - garante a integridade dos tecidos e sua qualidade, o que o torna semelhante ao corpo de uma pessoa viva.
Segundo Prinz, essa aproximação com a realidade amplia a formação do profissional para além da técnica, do ritual cirúrgico em si. “É um processo que também pode ser realizado em animais, geralmente em cabeças de porco. Mas existe um ganho maior quando a técnica é realizada da maneira mais realística possível: visualizar o rosto de um ser humano enquanto realiza o procedimento faz com que o profissional em treinamento seja psicológica e emocionalmente capacitado para lidar futuramente com a enucleação de um doador real.
Os oftalmologistas e responsáveis técnicos pelo banco de córnea do INTO, Victor Roisman e Gustavo Bonfadini, estão entre os profissionais que irão ministrar o curso. Outras duas profissionais vinculadas à Central de Transplantes também irão atuar como palestrantes.
Passo a passo da captação
Os profissionais serão capacitados desde a retirada total do globo ocular até a fase final do transporte. Roisman explica que a captação é uma cirurgia como qualquer outra e exige atenção à conservação do globo e à técnica em si. “O cuidado com a assepsia, a limpeza, a paramentação e a preservação do tecido também são essenciais”, destaca o oftalmologista.
Depois da enucleação, as equipes serão treinadas para a reconstrução do corpo. Para Rafael Prinz, essa etapa também é fundamental pois o mito de que a doação pode desfigurar a aparência do doador ainda é predominante e, por isso, é importante que os profissionais envolvidos na captação realizem a reconstrução da maneira mais anatômica possível.
O acondicionamento do tecido ocular em temperatura adequada e o transporte do material coletado estão entre as etapas finais do processo.